quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Para refletir: Pixação é arte?

A pixação nasce de um ato de trangressão, subversão, rebeldia. Vista como visualmente agressiva, muitas vezes é associada ao vandalismo e a degradação da paisagem. E tudo isso nos leva a  concluir que a mesma é desprovida de valor artistico. Mas será?
A própria Bienal de São Paulo, na sua 29º edição em 2010, após sofrer ataques de pixadores em 2008, abriu espaço, agora de forma consentida, para a pixação, dividindo opiniões e alimentando cada vez mais as discussões em torno dos limites da arte.

O texto que trago é antigo, foi publicado na SuperInteressante, edição de maio de 2005, mas nos ajuda a refletir a respeito da pixação como arte.

Boa leitura.

Pichação é arte

por João Wainer*


  Trabalho como repórter-fotográfico em São Paulo e passo o dia todo rodando pelas ruas dessa gigantesca cidade. O banco da frente do carro de reportagem é meu escritório. O barulho das buzinas dos motoboys, o cheiro de fumaça e os congestionamentos fazem parte da minha rotina.
Faz tempo que comecei a prestar atenção às pichações que dominam os muros da cidade. Conheci alguns pichadores e descobri que existe uma guerra silenciosa na noite paulistana. Milhares de jovens disputam os lugares mais altos para marcar seu nome ou o de seu grupo. Eles escrevem num alfabeto próprio, desenvolvido com linguagem e códigos específicos. Ganha a disputa quem pichar mais alto, no lugar com maior visibilidade.
  A cada nova história que escutava eu me interessava mais pelo assunto. Passei a reparar nas letras, a tentar decifrar cada palavra e mensagem como se fosse um quebra-cabeça. Aos poucos, aquilo que parecia caótico começou a fazer sentido para mim. Percebi que aquilo não era tão feio como alardeavam. Na verdade, a suposta feiúra da pichação até combinava com a paisagem acinzentada de São Paulo. O estilo das letras, a forma, o jeito com que elas são escritas são lindos. Adoro ver no alto dos prédios aquelas pichações enormes, com letras enfumaçadas. Tento imaginar quem fez, como fez e o que passou pela cabeça dele enquanto fazia.
  Pouca gente sabe, mas o estilo de letras criado pelos pichadores de São Paulo é cultuado na Europa. Existem livros na Alemanha que tratam exclusivamente da bela grafia das pichações paulistanas, com fotos e textos analíticos sobre o assunto. Creio que ao lado dos motoboys, os pichadores são o que há de mais representativo e genuinamente paulistano.
  Além de bonito, o ato de pichar é um efeito colateral do sistema. É a devolução, com ódio, de tudo de ruim que foi imposto ao jovem da periferia. Muitos garotos tratados como marginais nas delegacias, mesmo quando são vítimas, ridicularizados em escolas públicas ruins e obrigados a viajar num sistema de transporte de péssima qualidade devolvem essa raiva na forma de assaltos, seqüestros e crimes. O pichador faz isso de uma maneira pacífica. É o jeito que ele encontrou de mostrar ao mundo que existe. Os jovens da periferia das grandes cidades precisam aprender a canalizar esse ódio para atividades não violentas, como o rap, o grafite e até mesmo as pichações – que também podem ser consideradas um esporte de ação, tamanha a descarga de adrenalina que libera em seus praticantes. Ser pichador requer ótimo preparo físico para escalar muros e prédios, andar por parapeitos com latas de spray e correndo o risco de ser pego pela polícia ou por algum morador furioso.
  Não é só por isso que considero artísticas as pichações de São Paulo. A definição do que é arte tem algo de relativo e abstrato. O que é arte para uns, pode não ser para outros. Tudo depende das informações que cada um tem, onde e como vive, como cresceu e que tipo de formação educacional teve. É verdade que a ação dos pichadores desagrada e é condenada pela maioria das pessoas que vivem em São Paulo. Mas grandes artistas do último século usaram a arte para reverter conceitos estabelecidos e provocar mudanças de comportamento. Para isso, precisaram incomodar o establishment. Toda arte que se preze tem de incomodar, causar no espectador algum tipo de reação à qual ele não está acostumado. A pichação é um bom exemplo de como cumprir bem este papel.
  Não defendo que cada leitor compre uma lata de spray e saia pichando seu nome por aí. Apenas tento entender, livre de preconceitos, um fenômeno que é visível nos pontos mais movimentados da cidade e que faz parte da vida de todos que andam por São Paulo. A pichação é o pano de fundo da cidade, um detalhe do cenário que combina com a cor do asfalto, o cinza dos prédios, o cheiro da fumaça que sai do escapamento dos ônibus, o barulho do motor, da buzina dos motoboys, da correria...

* Tem 28 anos e é repórter-fotográfico do jornal Folha de S. Paulo desde 1996

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entrevista com Speed F.

Speed F. tem 18 anos e é pixador atuante na cidade de Criciúma (SC), entrou em contato comigo após ver alguns de seus trampos divulgados aqui no blog, e assim tive a oportunidade de fazer a entrevista que trago a seguir.


Você trabalha? Em quê?
Eu estou terminando meus estudos ainda, porque eu tinha parado de estuda, eu trabalhava numa fabrica de roupa, mais agora não trampo mais.


Você tem um nome artístico? Por que você resolveu colocar esse nome?
A tipo nos meu pixo eu ponho speed, porque não é só eu que faço speed, tem eu e mais 2 muleki, o Tom que mora em Sampa, e o Aga que mora aqui.
Speed é o nome do nosso pixo pa...família speed!

 
Que motivo o fez buscar a pichação? Como começou?
Tipo eu sempre curti pixação, sempre mesmo, só que eu nunca fazia porque não tinha quem ir faze comigo, ae eu encontrei o Aga que era de sampa e veio mora pra cá, ae um dia eu trombei com ele na rua e convidei ele pra da um rolé, pra nóis sai pro rabisko.

 
Isso desde que ano? Desde que ano você assina na rua?
Foi esse ano que eu trombei com ele e falei... mais eu curto pixação há uns 5, 6 anos por ae.


Que motivo fez tu gostar de pixação, algo em especial?
Não tem motivo, pixação só quem faz pra senti o que é!

 
Você considera isso arte?
Mostra tua arte nas rua né, se expressar através disso... porque pra mim pixação é uma arte. Não é qualquer um que faz pa... só faz quem gosta, quem curti aquilo ali mesmo.

 
O que você assina? Tem algum significado? É sempre a mesma coisa? Como funciona?
Eu assino speed F.+H*+T.
É sempre a mesma coisa.
Esse nome speed surgiu porque o Aga que é o speed H, curtia speed racer, ae por isso o nome speed, que é o nome da família e o F.+H*+T são as iniciais dos integrantes.
Quando é eu que pixo eu assino o meu e assino pra eles também, quando é eles que pixam eles assinam o deles e o nossos.


Que picos vocês costumam de pegar?
A gente é dividido, o Tom costuma fazer mais no baixo, eu faço mais janelas e o Aga faz mais é invasão e janela também.

Que materias vocês costumam usar?
Latas de spray, tinta e rolin.

 
Já foram pego?
Eu já fui uma vez quando eu tava fazendo um role com o Mano Roial.
O Aga aqui em SC nunca foi pego, só lá em sampa que ele levo processo quando ainda era de menor.

 
Falasse Mano Roial, você tem contato, conhece outros pixadores? Existe troca de experiências?
Sim sim, tem mais uns muleki que as vez a gente marca rolé com eles.

 
Aqui na cidade?
Sim.

 
Tem trilha sonora inspiradora?
Claro né, Mc Papo(eu pixava sim), Grilo 13 (pixa é humano) e Desabafo de um pixado...
Mas a musica que mais me inspira é Mc Papo e Desabafo de um pixado.


Tem alguém quem você se espelha, admira e se identifica?
Ah tem vários pixadores de sampa que eu admiro.
Sempre sonho em um dia cola lá em sampa e pega uma folhinha deles ou até mesmo da um rolé com os caras.


Folhinha?
É uma folhinha de pixo pa, com o pixo deles feito na folha de caneta etc


Das modalidades de arte de rua, tu nunca se interessou pelo graffiti?
Eu curto grapixo também... graffiti eu acho da hora só que não sei desenha muito não.


Tem algum pico que você se arrepende de ter pixado?
Não!


Em sua opinião o que caracteriza um bom pixador do ruim?
Não existe bom pixadores e ruins, existem aqueles que põem a cara e vão sem medo mesmo.


E o que você acha que precisa ter para ser bem sucedido em seu meio?
Pra ser bem sucedido só o que precisa é tu ter vários rolés teu pela city, conhecer os outros pixadores, respeita o pixo do outros, nunca atropela e assim vai...


Em sua opinião, qual é o maior castigo pra um pichador?
O maior castigo é tu leva um banho de tinta... kkkk na minha opinião!
E nóis, as vezes, somos confundidos com ladrões também e tem o risco de leva tiro. kkk


Vocês pixam estabelecimentos privados...gostariam que suas casas amanhecessem pixadas?
Não tem lugar pra ser pixado, privados não privados, o que vim a gente riska.
Se um dia minha casa tiver pixada, eu ponho uma seta pro lado e faço o meu!


Deixe um recado pra quem estiver lendo sua entrevista, se identificando ou não com a sua arte…
Meu recado é que eu queria que os outros parecem de acha que a gente é marginal, bandido, só porque a gente faz uns pixo.
A gente tem familha e faz isso porque gostamos.. não por destruir o patrimônio.
E para todos que tão começando, não desistam continuem nisso porque A RUA É /VOIS ^^ speed F.+H*+T.